Tristeza

Sinto-me triste.. Leio em todos os jornais, revistas, emails, oiço em todos os telefonemas e conversas..Portugal está mal! Muito mal... Chegamos ao fim do poço! Não há mais fundo, nem escavando com o desespero de um condenado!
Eu estou aqui, no pujante Brasil, país em explosão, potencia em potencia.. A minha família, os meus amigos, o meu país, encurralados, sem terem por onde fugir!

Restaurant Week

Começou em S. Paulo.. É verdadeiramente um acontecimento a não perder, já que, todos os restaurantes com fama (e sem ela), aderem ao movimento, criando para a ocasião menus muito próprios e absolutamente deliciosos, com a vantagem de serem..muito mais baratos!
Dondoca que é dondoca não se deixa adormecer no ponto e assim, nesta altura, multiplicam-se os almoços, utilizando-se mil e uma desculpas ou mesmo nenhuma! Declarou-se no grupo habitual a "abertura oficial" e fomos estrear um (nem todas, diga-se de passagem), completamente fa-bu-lo-so! O Vicolo Nostro, ristorant  bar conhecido pela deliciosa comida, maravilhosa decoração (parece uma villa italiana) e incrivel serviço! Adorei!
Sampa, Terra da Garoa (chuva-molha-parvos), é uma verdadeira caverna de Aladin (também dos quarenta ladrões, se tivermos em conta os preços absurdos que se pratica no que já é considerada o topo dos topos das cidades mais caras do Planeta...E os portugas, convencidos que o Brasil é baratinho!!) no que concerne ao sector em causa... Reza a lenda que, se um cidadão se dispor a almoçar e jantar fora todos os dias, numa vida razoavelmente longa, jamais conseguirá conhecer todos os restaurantes, botecos, bistrôs e outros que por aqui se acotovelam, mais de dez mil...
Cidade escondida por detrás de portas e grades, cada uma destas guarda ciosa, ambientes imensos ou mais recatados, decorados com um gosto e cuidado nunca antes encontrados em outros espaços urbanos... Todos os dias se abrem e fecham estabelecimentos, se renova a arte...A gastronomia, excelente, reparte-se entre o trivial brasileiro e a mistura requintada dos chefs, sem esquecer regionalismos, gostos e religiões... A qualquer hora do dia se pode comer...Vinte e quatro sobre vinte e quatro horas... A cidade que não dorme é S. Paulo, não NYC, como canta o Sinatra...ou será que é a Liza Menelli?

Quiero...

Antes de vir viver para S. Paulo a Joana passou dois anos na Cidade do México. Na sala, na tela de fundo branco, letras a negro, por cima de um dos sofás confortáveis, pode-se ler o poema favorito do Bernardo aprendido então na escola:
Quiero y no quiero querer. A quien no quierendo quiero. He querido sin querer y estoy sin querer queriendo. Se porque te quiero quieres que te quieras mas. Te quiero mas y mas.! Que mas quieres? Quieres mas? Te quiero!
A Alexandra levou um destes quadros para a Grécia e hoje pedi à Joana que fizesse um para mim, desde já prometida uma parede em Barcelona...
Pergunto-me... Qual será o sentimento que levou um menino de sete anos a pedir a eternização de um poema de amor tão forte?
A Ana e o Paulo decidiram casar.. Já estão juntos há anos...Devagarinho o Paulo foi-se mudando para o sexto andar, cumprimentando o meu pai que encontrava no hall à entrada do elevador, conquistando a D. Eulália e a Tia Mané.. A todos nós..O Pedro e o Francisco estão contentes, há já algum tempo que perguntavam "quando?" Em Outubro!
Alex-quase-cunhada!

Escondidinho de carne seca..

..é um clássico em Vera Cruz e se não estou em erro, com origem em Minas Gerais... A simples menção do Estado em questão leva o pessoal em geral, a lamber os beiços, soltar humms quase eróticos e a lançarem-se em descrições pantagruelicas de refeições inesqueciveis....
Eu pessoalmente adoro e nunca perco a oportunidade de degustar o escondinho de mandioca ou macaxeira...Às vezes acabo a refeição a ronronar satisfeita, outras nem por isso! Mas como tenho a sorte de ter uma amiga que o faz de modo absolutamente divino, como amo (expressão completamente cá da terra), um bom meeting feminino - com a habitual troca de galhardetes (estás tão gira.. adoro o seu vestido..que sapatos tão bacanas), de receitas (coloca sempre leite de coco?), queixas (me roubaram de novo no posto da gasolina, 20 reais a mais, mas dessa vez eu estava atenta!) e risos, pedi à Cláudia que fizesse uma boa travessa como desculpa, organizei-me e ontem, nove de nós, entre brasileiras e portuguesas paulistas, sentaram-se à mesa de vidro, pernas cruzadas, tinto do Alentejo e comemos até à exaustão, estado que antecede aquele de culpa absoluta! Para rematar um bolo de merengue que não envergonharia o da Bambu de Setúbal... Estava tudo óptimo e ainda ganhei uma data de presentes (a etiqueta local manda nestas solenes ocasiões).. Um lindo ramo de flores de caule elegante, uma galinha pomposa para tapar os bolos de fubá, uma vela cheirosa antistress, um saquinho de guloseimas and so one, and so one...Luky me!
Inconscientemente, comecei as despedidas..Gosto destas amigas que me rodeiam, com quem tenho partilhado a existência... Algumas delas conheço-as desde sempre.. A Zélia, a Leo (tão bonita), a Cláudia...A Cláudia, chef de cuisine, formada durante a experiência de expatriada no Canadá... A graça e elegância de uma francesa, a pontualidade de uma britânica, a ética de uma alemã, o coração de uma nordestina...e simplicidade...Uma cidadã do mundo como eu costumo dizer, portuguesa honorária, titulo conquistado por mérito próprio..
Em Barcelona, o que farei? Deixarei cair o hábito dos cafés da manhã, das cumplicidades, dos almoços sem pressas? Haverão Joanas, Celestes, Leos e Carolinas, Cristinas e Anas, Alejandras, Alexandras e Cláudias?

Cachorro!

Estou contente! E faz parte do "pacote"! Se o destino traçado é continuar na profissão de saltibanca (de luxo, é verdade),então, então, quero um amigo! Um amigo especial, de quatro patas, com um sorriso cheio de dentes, nariz quente e húmido, pelos para eu poder correr a palma, hálito fétido e língua molhada completa de afecto, olhos meigos, cauda a dar-a-dar...Um cão, um cachorro!
Faço planos...Levá-lo para todos os lados...Irmos buscar as crianças à escola, andarmos no parque, correr ao lado da bicicleta.. E rosnar, cabeça de fora, a todos os motoristas barbeiros que tentem ultrapassar-me quando eu estiver no meu direito...

Casablanca

No inicio a minha conta jazeu, sem comentários ou tentativas da minha parte por incrementá-la.. Assim esteve, abandonada, até que um dia, sem nada para fazer, sem vontade de fazer nada e por pura curiosidade, comecei a descobrir o mundo dos amigos virtuais, a um clic de distancia (cliché!), no matter what, disponíveis, prontos a largarem umas piadas, a serem simpáticos, a dizerem "gosto" a tudo o que fazemos...So nice! E o tempo foi passando e eu fui coleccionando as pessoas, sendo descoberta e descobrindo outras que julgava já perdidas, nunca mais a encontrar, nas brumas do tempo e das distancias criadas por rumos apontados a nortes diferentes...
Hoje o Face é uma obrigação, acordo de manha e procuro os comentários dos habitués, rio-me com algumas piadas secas, sei das noticias pela SIC, vejo as fotografias dos recem-nascidos e parabenizo os aniversariantes...Espreito a vida dos meus vizinhos pelas portas de vidro de cortinas escassas.. O Luís não gosta, mas aderiu enfim ... De quando em vez senta-se em frente ao PC, de óculos na ponta do nariz, pesquisando com cuidado as fotografias, afirmações e outros com que eu enfeito a pagina...Acho-lhe piada e tento seguir as instrucções do homem da segurança e não prevaricar....muito! Mas desde que tenho o IPhone e porque Sampa parece-me fugir entre os dedos, as imagens dos locais que eu gosto acabam por aparecer com maior frequência, tenho o desejo de perpetuar o momento, receio a despedida, que seja "até nunca mais!" em vez de "até já!"... E penso naquela primeira afirmação que ouvi, perdida nos meses e meses que por aqui passei.."chega-se a S. Paulo a chorar e saí-se a chorar de S. Paulo..." Terei sempre o FB para me recordar que, de facto, aconteceu!

Terramoto

no Japão! A Yulitza telefonou-me logo de manha a tranquilizar-me. A Sandra, Diego e crianças estavam bem, mas ainda assustados.. O FB também trazia as noticias da Giselle...O desastre, terrível, não teve consequencias pelo menos imediatas, para aqueles que nos são próximos e que, contudo, estão tão longe! Mais tarde liguei e falei com a minha amiga, já refugiada em casa, um prédio moderno e resistente aos balanços que a Ilha insistentemente sofre..
A Sandra encontrava-se a almoçar quando tudo começou.. Vinte minutos depois, impaciente,com o coração ao pé da boca, arrancou de carro, directa para a escola onde Helena, Carolina e Gabriela esperavam o desenrolar do drama, junto às outras crianças.. De carro, num chão que tremia...
Ser expatriada é assim! Fora o glamour de uma vida diferente, das viagens, de todo um universo que se estende à frente e obriga ao desatar dos laços mais apertados, é um eterno recomeço, é um estar precário e solitário.. É preciso coragem, capacidade de decisão imediata e força para enfrentar o desconhecido... Não é para todos, é certamente para Sandra.
Um abraço

Ana Alentejana

Na sua letra pequenina, direitinha, entre o redondinho e o ligeiramente infantil, escreveu:

1 ovo
12 colheres de sopa de farinha
6 colheres de sopa de leite
3 colheres de sopa de açucar
1 colher de fermento
Junta-se tudo, fazem-se bolinhas para se levarem a cozer em forno quente.
Para os dias de Inverno,
um beijinho da amiga
Ana

Sao scones! E como o Verão parece ter partido de facto (ou de fato), cumprindo o desejo desta alentejana que mora no meu coração há já mais de duas decadas, no forno da cozinha do apê 7/72, doze bolinhas, aninhadas, cozem! O Francisco e o Pedro, esses esperam impacientes!
Conheci a Ana no Instituto Superior de Serviço Social num dia de Outono, na fila da cantina, onde, com a Fátima, discutia a possibilidade de um grupo de trabalho.. Aparentemente na turma recem constituída todas e mais algumas se haviam já agrupado.. Resolvi que iria perguntar às duas primeiras que ali aportassem se queriam trabalhar connosco.. Brincalhão, desta vez, o Destino decidiu pela Ana e a Toísa.. O Alentejo Moderno e o Alentejo Antigo.. Inquiridas de chofre, também à deriva, nem tiveram tempo para pensar.. "Bem, está bem", respondeu a mais fininha, olhos longos e morenos, cabelos escorridos cortados em degradée..."Podemos experimentar..", dúvida estampada nas lentes redondas, cenário mais conservador, a Antónia Luisa.. Experimentamos e resultou! Durante 4 anos não nos largamos, a maior das brincadeiras, a par de resultados, umas vezes sofriveis, outros muito mesmo razoáveis.. E quando os prazos apertavam, reuniamo-nos no apartamento da Ana em Benfica, em jantares intermináveis e noites impagáveis, cheias de risos, boa disposição e loucuras saudáveis...Depois eu chumbei um ano e separei-me delas, cada uma em tarefas diferenciadas..Mas num lugar especial, a Ana e Fátima ficaram, ficaram para sempre!  E eu adoro a minha Alentejana, quase quase a fazer 46 anos, ar de teen, magrinha, menos moderna, mas de humor intocável..
Alex-com-saudades...

Foge comigo Maria

Quando nasci, a Fada Madrinha que estava de serviço nesse dia tinha uma imaginação desenfreada.. Era também, quase de certeza, distraída e, como tal, ao dotar-me dos dons que trazia como obrigação, passou-me os dela esquecendo outros sempre tão preciosos para o desenvolvimento harmonioso de uma rapariguinha..Exemplo: movo-me como um general em vésperas de manobras militares e não tenho ouvido musical.. Assim, quando gosto de uma musica fico o dia inteiro a tentar cantarola-la.. Obsessivamente oiço-a tantas vezes quantas as possíveis nos trajectos que faço, tornando-a no fim, absolutamente intolerável a quem me rodeia.. E agora, agora aconteceu ao foge comigo Maria dos UHF!! Se tu fosses girassol...Adoro!
E a propósito de Maria, conheci uma aqui nos Champs, mora no bloco ao lado do meu! Portuguesa de Cascais, de pronuncia a condizer, acabada de ser exportada para S. Paulo...Tem um sorriso agradavel e é uma versão loura da morena Dinora.. Muito engraçado olhar e ver o negativo da fotografia..

Carnaval

O Carnaval anuncia-se cheio de chuva e sol encoberto.. O facto de ser fim de semana e o tempo não cooperar torna-nos sem grandes perspectivas.. O que fazer neste sábado tão desmotivante? Os miúdos, mais expeditos, a seguir ao almoço "mandaram-se" para casa do Pedro Silva, o pestinha que divide a classe na escola com o Francisco e também o espaço, no condomínio.. O Luís, depois de uma sessão na academia, dorme uma soneca no sofá e eu,eu, já lavei a loiça toda que sobrou do jantar que fiz em casa ontem, celebração tardia do aniversário do senhor meu esposo.. Dei por mim a pensar que seria, talvez, o ultimo.. E isso remete-me claro, a Barcelona.. Às caixas e caixotes, ao embalar de toda a tralha reunida ao longo de 5 anos.. A vivência brasileira que se vai esgotando fininha, tal e qual a areia colorida da ampulheta...

Outono

A refeição favorita do Luís é o café da manha (vulgo pequeno-almoço).. De forma ritual, todos os sábados e domingos (caso estejemos em casa), coloca a torradeira, manteiga, queijo, doce, pratos, chávenas e café na mesa, arrasta-me do meu lugar de poiso (a cama onde aproveito até ao ultimo instante a soneca prolongada), coloca um DVD das suas musicas mais favoritas e desata a fazer torradas... Como normalmente se encontra super bem disposto (não teve que se levantar cerca das 6 horas, não enfrentou filas de transito resmungando o  habitual mantra "porque é que não andam? estão à espera do quê? estes gajos nunca vão aprender a guiar?"), enquanto barra cuidadosamente o pão, respira profundamente e inicia o ataque matinal (ainda eu estou meio lá, a tentar colocar em ordem os pensamentos, cabelos desalinhados e olhos inchados) que começa pelo habitual "então Gorda, que novidades é que há? Que novas estórias tens para me contar?"... Este domingo, no entanto, foi diferente! Com muita delicadeza (coisa que, lentamente, ao longo dos anos de convívio começa a surgir de forma ainda tímida), anunciou-me: "Vi o teu blog! E tenho-te a dizer que andas a perder a piada, já não é tão giro assim ler os teus posts! Já não falas sobre Vera Cruz!"

O Luís tem razão! Deixei de ser "viva" nos meus relatos, ando melancólica e prefiro os tons pasteis aos traços coloridos e rápidos, deixei as legendas para me por a divagar sobre a existência e sentimentos..Pfff, que tédio! Estou no Outono!