2007-02-05

Mulheres no Dart 18

As mulheres no Dart entraram primeiro de forma tímida, com pezinhos de lã, de repente, tal como o vento que antecede aqui as tempestades de verão, sem aviso tomaram a frota e instalaram-se!
As primeiras, as percursoras, foram a Lena e a Rosário! A "Lena do mamilo", uma das histórias preferidas do Gil (o Mac Enroy da vela, este entretinha-se a mastigar raquetas de ténis, o segundo crucificar as cruzetas das embarcações... Um dia a Lena, miúda loira e gira, absorta que se encontrava em cima da sua prancha de windsurf, esqueceu-se de colocar a parte de cima do biquini, tendo feito então a mais triunfal entrada alguma vez ensaiada no Naval, para gládio dos três velhinhos que residiam no banco em frente à rampa de acesso..Conta a lenda que estes nunca mais voltaram a ser os mesmos..); a Rosário ou Cleópatra, iniciou-se, sózinha, de nariz em riste e a teimosia própria da rainha que lhe emprestou o nome, a bordo de um laser, até aprender as manobras..
A Lena e a Rosário são umas "verdadeiras lobas do mar", nunca recuam diante de ventos, chuvas, salpicos ou outros...quantas vezes as vi sair, desejando com muita força partilhar da aventura, vestir o trapézio e partir as ondas...
Porque os nossos desejos de alguma forma acabam concretizados, o Luís e o Gordo, dupla de peso, depois uma época de vento fraco, resolveram seguir caminhos apartados, dando aso a que eu viesse a fazer equipa com o meu namorado, actual marido; a partir daí deixei de ser espectadora e as regatas passaram a significar algum trabalho e muito, muito gozo...
Nesse primeiro ano Eos enviou fortes ventanias que me fizeram cantar alto para afugentar o medo..o mastro caiu uma vez, o Dart fez chapéu de coco, eu andava coberta de nódoas negras embaraçosas que levavam a minha então esteticista a confidenciar-me, de modo cúmplice, "o meu marido também me bate!"
Mas como resistir à adrenalina, ao vento no rosto, às piadas trocadas entre as regatas, à fúria de ganhar que toma conta dos velejadores, como resistir à emoção de empinar o barco sobre as ondas e deslizar tão rápido, tão rápido, naquelas bolinas tão perfeitas?
Nos primeiros tempos a táctica passava-me ao lado! O Luís entendia que eu deveria ter assimilado tudo à primeira e para mim, nada fazia ainda sentido! Porquê uma trajectória que cada vez mais nos afastava da bóia? Porquê uma viragem tão ao largo? Porquê posicionar-me na popa, pés nos footstreps com vento forte? Porquê ter que ouvi-lo a "ladrar-me" ordens, a tratar-me como se eu fosse a tripulação da "Bounty"?Discutia e agredia furiosamente o Luís, apostado em não me facilitar nada, jurando a pés juntos, nunca mais compartilhar aquela "cama" com ele...
Com o tempo tudo fez sentido, tudo se encaixou! Com que entusiasmo eu esperava as largadas, barcos aquartelados, cronómetros no pulso engatilhados, gesto pronto para caçar o estaí e fazer disparar o Dart..sair da confusão, barco contra barco, insulto contra insulto!
À noite, durante os longos jantares tardios, revíamos cada momento, cada protesto, cada piada..Era engraçado compararmos os "bronzes" apanhados de forma inadequada, mas nenhum batia o da Mané, riscas ao longo das pernas altas de gazela..vermelho..branco..vermelho..branco..botas, pele, joelheiras, pele, calções, pele..A serenidade da Rosário que fumava o cigarro enquanto o Maranha carregava, debaixo do braço, as proas por armar, a Paula que nos fazia rir com as histórias do Ricardo, a Nônô que tinha no seu leme um galante cavaleiro, único na frota capaz de desistir fosse em que circunstâncias fosse pelo bem estar da sua dama..
A continuar.
Bons ventos...

3 Comentários:

Blogger kingsten disse...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

terça-feira, fevereiro 06, 2007  
Blogger Ana disse...

aminha recordação mais gira das mulheres no Dart remonta aos idos de 98 ou 99, qdo comecei a frequentar o meio devido ao meu papel de babysitter do Pedro; acho q foi em Vilamoura, um frio de rachar e eu a olhar para três mulheres ainda semi apetrechadas mas descalças e com um secador de cabelo apontado aos pés azuis aver se descongelavam!

terça-feira, fevereiro 06, 2007  
Blogger alexmanuela disse...

Querido anónimo, essa foi uma moda inventada que nao pegou..Lembra-te que no total (onde me incluo, naturalmente), as mulheres no Dart nao tinham medo de nada, enfrentavam a adversidade como o resto da frota e ainda o dia inteiro, vestidas de polar e fato seco, nao disfrutando da facilidade de poder puxar o zipper, como os homens..Bjos

segunda-feira, abril 02, 2007  

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