2007-02-02
Costumo dizer aos meus filhos que "um português no estrangeiro é um embaixador do seu país!"
Quando chegamos ao Brasil podemos constatar que o português aqui (e falo especificamente da cidade de S. Paulo), é encarado como um personagem cuja principal actividade profissional se resume a possuir uma padaria de sucesso, ou então, uma pequena mercearia de bairro, onde, de modo avaro, toma nota das despesas do freguês, arrancando sofregamente o lápis mordido por detrás da orelha esquerda já coberta pela penugem da idade; são secundados pelas mulheres, criaturas pouco graciosas, trajadas ainda segundo os cânones da moda dos anos 50, altura em que, carregados de esperança e cheios de vontade de vencer, partiram das suas terrinhas pequenas, analfabetos, praticamente! Os filhos, de sotaque paulistano perfeito, casaram com "moças", vivem modernamente, prosseguindo os negócios de família às vezes, gastando com sabedoria ou não, o pecúlio que os progenitores, de forma árdua juntaram..Renegam normalmente as origens, embora, aquando da descoberta da minha, retomem a língua materna de modo quase perfeito, olhando com alguma desconfiança esta nova vaga de "imigrantes de ocasião"!
Nos brasileiros, os preconceitos vivem a par com a "saudade", quase todos tiveram um tio, avô, pai ou mãe de Trás-os-Montes, sendo Lisboa a capital desejada e o bacalhau o prato preferido..A língua de Camões arranca suspiros derretidos às mães dos infantes quando o Francisco se pronuncia, estarrecidas perante um ser tão pequeno e verborreico, capaz de tons tão expressivos e de palavras nunca antes ouvidas ou apenas suspeitadas..Eu rio-me sempre, porque, tal qual elas, fico de boca aberta face aos seus pequenos, nascidos com o dom da sociabilidade; um dia, perante a minha estupefacção, um deles rematou um longo monólogo com a bombástica afirmação "sou absolutamente chocolátra!"
Gosto do papel que o destino me atribuíu, sem querer desvalorizar os primeiros imigrantes, corajosos e determinados que cruzaram os mares em busca de uma vida melhor, ignorando as condições a que seriam submetidos, aceitando com humildade este destino; gosto de surpreender os nativos que partem da perspectiva que os portugueses são sorumbáticos por natureza, fechados, que sucumbem somente aos paladares da sua própria cozinha, que não possuem cultura alguma ou que, apenas se preocupam com o próprio umbigo, ignorando o mundo à volta e mais importante ainda, as pessoas que o povoam.
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