2006-10-26

Secretariado Nacional para a Reabilitação e Integraçao das Pessoas com Deficiencia

No dia 1 de Setembro do ano da graça de 1993, entrei pela porta do então Secretariado Nacional de Reabilitação, ainda com 28 frescos aninhos, de vestido de corte simples em cor-de-laranja, mocassins a condizer, cabelo à garçonette (fruto de uma necessidade urgente de mudança) e por motivos estéticos, que agora já não me lembro quais, grosso medalhão de ouro, representando a face de Cristo, acorrentado ao meu frágil pescoço.
Numa hora fiz o quick tour da praxe pelo edifício cinzento e tristonho, que abrigava menos de uma centena de funcionários públicos, ou com pretensão a sê-lo, na companhia de Irolinda, chefe que me calhou por destino, clone aproximado da Fernanda Borsatti, actriz cómica que fazia as delícias da minha mãe.
Fui apresentada a todos quantos ali se encontravam; rapidamente pude aperceber-me que tinha penetrado num mundo especial, cheios de personagens muito próprias, algumas delas absolutamente inesquecíveis ("bem vinda irmã" disse-me o colega das estatísticas, com a careca ao nível do meu enfeite..); "sou Stela, mas registada como Estela, o que em Portugal significa lápide tumular.."; "haa!!" resmungou a Céu, entrincheirada numa muralha de papeis amarelos e volumes novinhos em folha, que esperavam a vez de serem colocados nas prateleiras da biblioteca..
Nesse dia conheci Júlia a revoltada, Catarina a colorida, Jõao o deixa andar, Pedro o inventor do nónio, Silva Graça o pai natal forreta, Belarmina a serena, Céu a resmongona...não conheci Teresa a determinada, Maria João a alentejana, Beatriz o guru, Cristina a fiel, Fernanda a côr-de-rosa, Graça a ansiosa..e outros!
Pelas ruas de S. Paulo, no aquário confortável que o meu carro se tornou, tenho a sorte de poder estar no restaurante com a Beatriz, a Cristina, a Catarina, a Maria João..de participar nas reuniões gastronómicas da Fernanda, da Teresa, do guru..partilhar do crescimento do Daniel, saber do Diogo, do Duarte e do Dinis, conhecer as cores da aura do Pedro, do Luís, do Francisco, rir-me das traquinices da Laura, ouvir rir a pequena alentejana lisboeta, que oiço dizer ser uma menina feliz...
Tenho mesmo muita sorte, porque um dia, no rescaldo de uma relação terminada, no princípio de uma existencia novinha em folha, arrumei em cima do passeio, como era praxe, o meu Renault 5 bege e, com um suspiro de antecipação, entrei no então Secretariado Nacional de Reabilitaçao.

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