2010-11-26

Posição de Buga

Ontem deitei-me a rir com a afirmação do meu petiz mais velho, que comodamente instalado ao meu lado no carro, mas aborrecido, relatava o dia dando especial ênfase ao facto de ter estado interminavelmente sentado em posição de "Buga" no ensaio geral da peça da turma, consequencia dos constantes ataques de riso dos colegas que não atavam nem desatavam.. A posição de "Buga", segundo o Pedro, fazia doer as pernas e às tantas já não dava para assim se manter apesar de ser a adoptada pelos narradores, grupo do qual fazia parte!
Atento, sentado atrás, o Francisco não perdeu pitada e aproveitou para debitar a pragmática opinião guardada para as ocasiões, cantando-a de forma diferente da usual, fruto do malvado aparelho que a odontologista Cristina do Uruguai lhe plantou na boca para alargar o osso do céu e dessa forma permitir finalmente, o nascimento dos caninos que há longo tempo se escondem sem ousarem descer.. Pobre Francis que momentaneamente perdeu a faculdade de utilizar os erres e de devorar em instantes, a comida como tanto gosta! Tornou-se assim um cavalheiro à força, com garfadas pequeninas e refeições alongadas!
Hoje a casa está silenciosa, o meu pequenino dorme fora e o Peter, saudoso do irmão, nao subiu as escadas do beliche e aninhou-se na cama de baixo.. Apesar da conversa séria mantida um dia destes em que me avisava das naturais desavenças que a idade dele trazia relativamente ao mais novo, sente-lhe imenso a ausência e o mesmo acontece ao outro..
E por falar em falta e saudades, começo a sentir que é tempo de retorno, de casa portuguesa, arrozes de polvo e abraços.. Já falta pouco.


2010-11-16

Aborrecida

Sim, é verdade! Ando aborrecida e os meus olhos não descobrem na paisagem habitual a necessária novidade que me lava a alma e faz prosseguir em direcção a qualquer coisa que nunca sei o quê.. Faltam cores aos dias e auras às pessoas que se atravessam no caminho.. O céu em constante cinzento por sobre os prédios enfada-me enquanto percorro as estradas rotineiras.. Suspiro por um lugar diferente, temperado de cheiros novos e cenários inesperados que me façam, de novo, sentir viva.. Desejo mastigar deleitada uma refeição divina e comer um doce extraordinário .. Sinto-me adormecida.

2010-11-14

Voar!

Ando com uma mania nova.. Gostaria de voar.. Sim, literalmente! Como em "Cinco semanas em balão" do mestre Júlio Verne, mas sem aterrissagens forçadas, com aventuras mais calmas do que aquelas que me preencheram a imaginação há já muitas décadas atrás... E como o balonismo parece ter voltado com alguma força, tenho feitos alguns planos doidos para transpor para a realidade este meu desejo.. Apoiada pelo primogénito deparo no entanto com o não firme do meu codé, que tem medo de acidentes aéreos..

Quando a realidade não o permite, o sonho interfere..E foi assim que, nos braços de Morfeu, esta noite, levitei com uma facilidade incrível durante algum tempo, a meio metro do chão! Dei um impulso e pronto! Depois, à base da energia que se me escapava entre os dedos das mãos abertas, assim me mantive, numa sala desconhecida, enquanto aí permaneci sozinha! Uma sensação fantástica, feita de coração aberto e com a convicção inabalável de que me era inato e tão fácil!

Depois, já de acordada, lembrei-me do meu pai que tantas e tantas vezes sonhou que voava...
Saudações,
Alex-em-fim-de-semana-estendido...

2010-11-07

Deserto..

A viagem, planeada há já alguns meses, aconteceu finalmente, aproveitando-se o feriado grande a que se juntaram mais dois dias de férias.. Nas bagagens (os sacos de marinheiro que nos habituamos a carregar para todo o lado), roupas leves e quentes misturavam-se, anunciando as amplitudes térmicas tão temidas do deserto mais alto do mundo!

O Atacama. Lindo! Lindo, desnudo, tão seco, tão quente e tão gelado!! Marte que se transformou por via da má pronuncia do belga que o baptizou, em Vale da Morte, as pedras lunares, a rocha quebrada em mil pedacinhos, areia castanha sob os pés, solta, que se evapora em nuvens de pó que cobrem as roupas, a pele, o cabelo e entra mansinha nos pulmões, dificultando as golfadas de ar que por vezes se sorvem em desespero porque, naquela altitude, o oxigénio escasseia..

Os vulcões, perfeitos cones que se entretêm a construir castelos de vapor, emolduram até onde a vista alcança.. Lagos salgados com flamingos pernetas cor-de-rosa que encaram indiferentes as maquinas fotográficas, lagartos coloridos olham desafiadoramente os humanos e no meio da estrada, linda, fulva, uma raposa esperta, não foge, aguardando com olhos gulosos e língua de fora que a alimentem...

Faltou apenas o condor, pássaro em extinção. Símbolo orgulhoso do Chile...Tive esperança e pena, mas  não o avistei apesar de tantas e tantas vezes ter erguido os olhos ao céu, à procura das asas magnificas que alcançam, em 24 horas apenas, distancias míticas..
Noutro dia, lagoas em ebulição, os geiseres, a ferver, lançando água e colunas de fumo no ar a 14 graus negativos que engordava os turistas envoltos em camadas e camadas de polares, cascois e barretes de lã..
Pores de sol no alto de colinas subidas a custo, descida de dunas negras que teimosamente se enfiam nos sapatos, paisagens enfeitadas de cactos, de lamas, que pastavam, de repente, num vale pequeno e verde, oásis que nascem no meio do nada, cultivados pelos nativos.. Duas lagoas absolutamente azuis despontam num vale dourado....
Uma viagem diferente.