2007-02-06

Era uma vez..

Hoje pediram-me para contar uma história...
Há alguns anos atrás, ainda eu era uma miúda sem grandes preocupações, betinha q.b., à beira da Inevitável Ruptura com o Antes e Depois, fui convidada pela minha amiga Fata a acompanhá-la na grande expedição italiana, à beira do Lago Di Como, local nesse ano escolhido para a realização do Campeonato Europeu de Dart18! A Fata era, da caravana combinada, a única que não competiria.
O convite foi feito na véspera da partida e quase sem hesitações, aceitei... Afinal, o Rui, meu então namorado, até se encontrava ausente, em lugar certo, a passar umas excelentes férias com os amigos, sendo dado adquirido que eu não o poderia/deveria acompanhar nas aventuras de verão!
De um momento para o outro comprei liras, fiz a mala e não dormi lá muito bem, fantasiando a viagem..poderia tentar conhecer Veneza e Florença; Milão estava, à partida, garantida.
À hora marcada o Henrique parou à porta de casa dos meus pais! Carrinha Volvo último modelo, ar condicionado a funcionar em pleno (naquela altura um luxo!). Foi-me imediatamente comunicado, ainda antes das apresentações (era a primeira vez que o via!) que não era permitido: 1) comer o que fosse a bordo; 2) beber líquidos; 3) realizar ou "sonhar" qualquer tarefa que viesse a significar uma mancha nos bancos! (Segundo testemunhas oculares, sequer os filhos, de tenra idade, tinham permissão para degustarem um biscoito que fosse!)
A viagem revelou-se agradável, rápida, com o Henrique quase sempre ao volante (embora, depois do Mónaco o "Most Beatiful Man" tivesse tido autorização de pilotar um pouco..).
Em França encontrámo-nos com o Gil e o que tinham estado a participar de uma outra prova; a partir daí o Luís, na companhia da Tininha (a então namorada), passou para o Fiesta comercial que havia emprestado aos dois e a minha Fatinha integrou a equipagem do Jipe Nissan, propriedade do Gil! Lá fiquei eu à mercê não só do Henrique e do "Most", mas também de um , completamente melancólico, apanhado em altura de decisão sobre a vida amorosa! Entre os dois primeiros rolaram histórias de saias e de vela! Foi giro!
Em Itália havia sol, água, montanhas...Paisagens lindas e o Fiesta que o Luís simpáticamente, colocou à disposição das não participantes..Esbaldámo-nos as duas, passámos para a Suíça (sem passaportes, bastou um lindo sorriso e "vamos só ali comprar chocolates, ok?"); percorremos o Lago e a meio da semana resolvemos ir (finalmente!) a Veneza.....
Embarcamos em Milão, na estação rodoviária, abandonando o carro numa rua discreta, rezando ardentemente não termos que comunicar ao Mouse o seu desaparecimento! Veneza! Que emoção vê-la! Os meus olhos ficaram marejados de lágrimas perante o olhar incrédulo da Fátima, mulher mais pragmática e menos dada a estas loucuras!
Veneza espraiava-se, magnífica e quente, convidativa...mas primeiro urgia encontrar um local de pousio para a noite aí planeada, pelo que arrastei a minha companheira até à "Pensão" mais próxima, onde solicitei abrigo..Felizmente, provavelmente fruto de anteriores reincarnações, compreendo com alguma facilidade o italiano (simples, claro), pelo que assisti, divertida, à negociação do arrendamento do quarto, ocorrida entre a dona e um amigo, que advogava enérgica e gratuitamente a nossa causa, opondo-se ao preço inicial...Vencida, entregaram-nos a chave de uma habitação, grande mas despida, com cama de casal e uma pequena janela ao nível do solo que permitia visualizar, distintamente, os sapatos e tornozelos de quem passava! O primeiro comentário da Fata foi:"vão-nos violar aqui durante a noite e ninguém vai perceber!!"
Ao longo desse nunca-mais-esquecido-dia fizemos todos os trajectos obrigatórios, entramos em todos os lugares possíveis e pela primeira vez, encarei de frente as obras do Mestre Dali, ao vivo: o Elefante do Espaço, as aguarelas da Alice no País das Maravilhas, o Relógio que derrete como queijo...Atravessei a Ponte dos Suspiros, tentando sentir o que sentiram aqueles a atravessaram para o desespero..Abarquei na minha memória o máximo que consegui do Palácio dos Doges, deliciei-me com os violinos nas arcadas e tomei o café mais caro de sempre..Subimos à Torre e vislumbramos as ilhas e a pequenez do outrora poderoso centro mercantil...Regressamos, de noite, no vaporetto, espreitando como vizinhas bisbilhoteiras, as janelas iluminadas pelos candelabros nos palácios..
De volta aos aposentos, estávamos de rastos..Adormeci de imediato, contente..
Uma das minhas características da época eram os pesadelos: acordava espantada, balbuciava qualquer coisa e automaticamente retomava o sono, esquecendo de imediato o sucedido... Foi o que me aconteceu em Veneza para horror da Fata, já de si um pouco incomodada (era primeira vez que se metia em trabalhos do género..); aparentemente sentei-me na cama, direita, de olhos bem abertos e soltei a frase que a deixou com os cabelos em pé até que a madrugada rompesse:"Há homens no quarto!", voltando, segundos depois e de modo seráfico, a retomar o descanso!
De manhã continuamos a exploração e ao fim da tarde apanhamos o comboio, desta vez conjuntamente com os tifosi do Milano que iam assistir a uma partida importante e respectiva escolta policial..E pronto, fim da história..Para rematar, de salientar que tudo terminou de um modo feliz e que, as tripulações Lena e Zé, e Gil, venceram duas regatas nesse campeonato, para alegria e satisfação de todos os portugueses!

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