2011-04-25

25 de Abril.. Sempre?

Aparentemente não, numa das revistas que o Luís trouxe desta ida à Europa, um dos pilares da Revolução de Abril afirmava qualquer coisa do género.." Se eu soubesse que Portugal chegaria a este ponto, não teria feito a Revolução!" Não é ipsis verbis porque a minha memoria é selectiva, escolhe sempre o sentido ao invés das palavras..
Há quarenta e seis anos atrás eu baptizava-me na Igreja Matriz da Cidade da Praia e dez depois embarcava rumo ao Continente e a uma vida totalmente diferente daquela que eu levava no clima tropical das Ilhas, no meio das mornas e coladeiras, sem a real noção do que me rodeava até então! Portugal era como as águas da Arrábida, gelado! Habituada à maciez e doçura dos cabo-verdianos, estranhei os modos dos setubalenses de língua enrolada, fossem eles pequeninos ou grandes..
No inicio não gostei dos cravos, tinha saudades das pessoas, da comida, do cheiro, do mar que batia mesmo em frente à porta de casa..Com o tempo compreendi o significado das palavras Liberdade, Democracia.. Habituei-me a elas, sem dificuldade.. Acho que as perdemos, algures, no meio do consumismo desenfreado e dos prazeres fáceis..
Aqui não é feriado, as crianças na escola e quem trabalha, em funções..

2011-04-17

O passeio

Chegamos a Boituva ao fim da tarde, o sol quase a pôr-se nos campos que rodeavam o aeroporto e o hotel onde pernoitamos.. .
Tempo limpo, noite amena.. Partimos em direcção à cidade pequenina que se estendia infinita numa rua só e jantamos, na pizarria simples, pizzas com bordas cheias de catupiry, que o Francisco adora mas que os outros até dispensam.. Eu comi, tinha fome...O preço? Um absurdo, jamais haviamos pago algo assim, onze pessoas apenas sessenta e um reais.. Um pouco mais de cem kms de distância da capital...Na véspera, na Veridiana, em S. Paulo (ok, ambiente diferente mas sem vinho, sem sobremesas), cada um de nós, pelo mesmo petisco, desembolsou cerca de setenta...
Como a Cris (que viaja com frequência a Sampa em negocios), deixou o Alex e as crianças em Terras Lusas, acollhemo-la no nosso quarto, tendo nós as duas partilhado a cama de casal e o Pedro e o Francisco dormido em colchões... A Cris é pequenina e quando se encaixa para dormir é uma santa, fica sossegada num cantinho, cabelos compridos espalhados pela almofada e respiração serena.. Eu, habituada que estou aos meus espaçosos todos, achei que estava sózinha!
Durante a noite choveu cats and dogs, dinossauros, cavalos e vacas, o vento uivou desesperadamente e eu fiquei quase convencida de que o passeio de balão estava irremediavelmente comprometido. A alvorada, cerca das 5.45 horas, desembrulhou para todos um céu azul e tranquilo, um sol nascente sorridente e um vento adormecido! Que sorte!
No breakfast... No espaço em frente à pista onde o aviãozinho de serviço despeja de meia em meia hora paraquedistas em busca de emoções mais fortes, um cesto de verga e um pano colorido muito comprido, jaziam por sobre o prado verde, entre o vai e vem das cinco crianças que participariam na subida.. Lentamente, com os homens de apoio a segurar firmente a embarcação, o balão arco-iris encheu-se, completo de promessas de uma viagem diferente.. E foi!
Foi diferente porque:
  •  tão suave e sem sobressaltos, levantou voo como num sonho
  •  lá de cima a paisagem, desenrolou-se tal e qual um tapete
  •  o vento pára (nao obstante estarmos a sermos levados a 55 kms /hora)
  •  o tempo dilui-se no prazer inesperado da suspensão da barquinha
  •  as casas abertas, em relevo alto, permitem um espreitar diferente
  •  os passaros brancos que voam por sobre os arbusto em que as arvores altas se transformam, parecem borboletas alvas, mensageiros da paz..
E aterramos, de forma ainda mais tranquila do que subimos, sem a adrenalina que julguei necessária.. O balão foi morrendo aos poucos, puxado pelos meninos que por fim, cansados, se estenderam por sobre os tons fortes depois de terem brincado e corrido.. Antes, brindamos com champanhe o baptismo do ar, tendo eu permitido ao Pedro e ao Francisco o degustar da bebida em calice de pé alto que vinha envolto em guardanapo branco elegante, guardado num cesto com fechos de cabedal... Africa Minha..(pormenor, o mais velho fez caretas e ao mais novo, arranquei o copo a custo!)
Foi giro! Mas não extraordinário!

2011-04-09

Sobe sobe balão sobe..

Do desejo à realidade... O Luís em viagem, num primeiro reconhecimento ao terreno profissional e o fim de semana, disponível...E eu quis muito um passeio de balão!
Com a ajuda do bom amigo João Contreiras, que de imediato, sem hesitações, alinhou na aventura, partiremos disparados ao céu em grupo cerrado de portugas, cinco adultos, cinco crianças...
Amanha, cerca das 6 horas, em Boituva, cidade a poucos mais de 100 kms de S. Paulo onde pernoitaremos para excluir quaisquer atrasos...

2011-04-04

Saúde

A saúde é um tema delicado.. Graças a Deus, eu tenho saúde.. E digo graças porque é bom ter saúde e porque eu tenho uma falta de paciência imensa para tomar conta da saúde.. Ou pelo menos da minha! Tomo conta da do Pedro e do Francisco, tentando não descurar as consultas dos dentistas e ortos, da dermatologista  (têm ambos peles atópicas), dos otorrinos e dos pediatras...
A palavra expatriado coloca instantaneamente cifrãozinhos nas pupilas dos bons doutores que, em Terras de Vera Cruz, cuidam de nós! Expatriados significa, regra fixa, capacidade financeira acima da média em virtude dos fabulosos seguros médicos, ou, numa versão menos simpática, babacas  a explorar até que nos doa o osso da cobiça! E não se trata, em absoluto, de má língua (confirmado pelas minhas amiguinhas brasucas)...Intervenções cirúrgicas custam, na pratica, pelo menos mais um terço..Em fins de Setembro o Francisco sofreu uma, tinha as cornetas do nariz!!!!(sim eu sei, dá vontade de rir), enormes, fazendo com que a respiração se processasse de forma errada, que ressonasse e ainda, comesse de boca aberta! No Albert Einstein! (E aqui abro um parêntesis grande, porque esta Instituição merece sem duvida! Trata-se do melhor Hospital da América Latina, dos melhores do Continente, luxuoso, full equipped, nada falta: passando pelas instalações, lojas e restaurantes, até ao pessoal e tecnologia, absolutamente de ponta).. Entrada e saída no mesmo dia. Daria, na nossa Santa Terrinha, para extirpar pelo menos, cornetas a três meninos!! A médica fez questão de tratar a galinha dos ovos de ouro pessoalmente, falar com o Francis, explicar-lhe os procedimentos e consequencias, não esconder.. Seis meses depois, pronto para a consulta de rotina,ciente que seria a ultima,  a própria, aquela que fez ressaltar a necessidade da ligação, dos laços entre os intervenientes, manda-o para o afilhado que é muito bom.. Acredito, mas que sabe o menino da madrinha que nunca passou os olhos pelo menino da mamã?
No Brasil os médicos são excelentes na técnica, na qualidade e quantidade, no atendimento aos pacientes.. Infelizmente tornaram-se uns mercadores sem grandes escrúpulos.. Onde fica o Juramento de Hipócrates nisto tudo?