2010-04-13

Valentina e Violeta

Aqui em Vera Cruz tenho tido o privilégio de conhecer e conviver com  mulheres extraordinárias, com estórias bonitas..

Quando Violeta nasceu, Valentina sentiu-se recompensada. Inspeccionou com cuidadoso amor o nariz, a boca, as mãos, o corpo, para depois verificar, sem surpresa, o rosto, que afinal, sabia de cor.. E no caso, era um rosto lindo. Violeta continua assim. Sorriso branco, pele macia e perfeita, cabelos louros bem cuidados. Feminilidade nos gestos e no andar...Pronta a entrar na idade adulta, é ainda adolescente na figura... A cabeça, essa, é de quem foi educada para as responsabilidades que assume sem hesitar..

Há muitos anos atrás era Valentina a menina de ouro. Passeava a sua alegria, estudava Direito e tinha-se apaixonado pelo pai de Violeta. Um homem mais velho, cheio de graça e recursos, com uma vida escondida onde cabiam uma mulher e dois filhos adolescentes.. Quando a gravidez se anunciou, deu-se a fuga... Voltaram-se a ver somente no dia em que ele entregou à filha de sangue, o nome da família.. Durante 12 meses negou a existência de ambas, para depois, perceber que afinal, queria mais...Foi tarde, a Vida já não lhe reconheceu os direitos e decidida, tinha aberto o caminho dos Mundos às duas!

Primeiro veio a praia de Ipanema onde Valentina, numas férias felizes, conheceu o Holandês que voou para Portugal com braçadas de rosas nas mãos e depois, levou a mãe e a bebé consigo, rumo ao país das socas de madeira, do mar devorado pela terra, dos duendes de barretes da cor do arco-íris nos jardins tão cuidados, das bolachas com recheio de doce de leite tão boas...

A existência no "país-laranja" foi pacífica e a vida de veterinário de província, cuidador de vacas e cavalos, reuniu os ingredientes que ainda hoje, em serões de amigos, fazem bem dispostos quem tem a sorte de ouvir as aventuras da pequena família, não fora a tristeza de saber, que um dia, tão poucos meses depois, numa visita fugaz a terras lusas, o Holandês partiu para sempre num acidente de carro.

Valentina chorou e sentiu assim:
- um contacto muito directo e real com a morte, fisicamente com dor e repulsa...
- uma tristeza profunda por aquilo que ambos poderiam ter sido..
- pena, principalmente por ele..
- desespero pela situação em que se encontrava..
- perdida...
- e tão confusa!

Conto o resto noutro dia.
Beijos