2007-10-14

Em viagem pelo Maranhão

Esta semana ausentámos-nos de S. Paulo (porque se celebrou a "Semana da Criança", mais vulgarmente conhecida como a "semana do saco cheio" pelos pais fartos das suas criaturas em casa..) e voamos até ao Maranhão, local a que a minha fantasia e as fotografias das revistas de viagens já me haviam levado por diversas vezes.. A realidade superou o imaginário e perante o deserto de areia branca finíssima e os lagos de água doce azuis, parei encantada, tentando captar para sempre na memória a beleza e sentir na alma, o privilégio de "tocar" um local que eu sei, não voltarei a retornar..

Ao longo dos dias realizamos passeios diversos, tendo efectuado também alguns de carácter cultural (arrastando claro, os nossos dois rebentos menos inclinados a este tipo de divagações..), nomeadamente ao centro histórico de S. Luís, património da Humanidade, absolutamente arrebatador pelo conjunto incrível de casarões ao mais puro estilo lisboeta, cobertos de azulejos portugueses admiráveis na sua simetria e desenhos, ainda em perfeito estado de conservação.. Ao contrário do que aconteceu em Salvador, há precisamente um ano, os guias que nos calharam sabiam na ponta da língua os pormenores mais inéditos, as lendas, os números (que debitavam na perfeição), as razões das tradições.. Travei assim conhecimento com a dona da cidade, a implacável Ana Jansen de origem holandesa que não perdoava aos seus inimigos e que reinou, de forma absoluta, sobre os maranhenses, não obstante não ocupar o Palácio dos Governadores.. Mas também gostei de Catarina Mina, uma bela escrava escura de olhos azuis como o mar, amante dos poderosos e que com o dinheiro que ganhava ia comprando as alforrias dos amigos e da família.. Apesar de ser dona de vários sobrados e de uma rua, não podia dela sair por questões morais e assim, para poder desfilar os seus lindos vestidos europeus, mandou aí construir uma escadaria que eu desci concentrada, tentando captar algures o espírito da época..

Ainda no centro histórico jantamos num dos dias num restaurante giríssimo, algo decadente, ao som das guitarras e dos chorinhos brasileiros.. E sobre a comida, foi engraçado constatar que nesta zona do Brasil o preconceito das sopas caí por terra (sopa é para doente aqui em S. Paulo!!) e um dos manjares mais típicos são os caldinhos (que eu pedia quase invariavelmente de caranguejo, espécie que predomina nos lamaçais em redor das cidades e nas margens dos rios).. Também comemos na "Cabana do Sol", carne de sol (carne ligeiramente seca, impecavelmemente assada e macia), acompanhada de inúmeros acepipes e numa quantidade que daria para nos alimentar ao longo de 24 horas consecutivas (a consequência da minha gula foi uma paragem de digestão nessa mesma noite..).

Segunda feira resolvemos ir a Alcântara.. Fiquei estarrecida com a cidade que se alcança mais facilmente através do canal de águas revoltas capaz de por a vomitar o mais valente dos marinheiros.. Sentados na coberta e a salvo do cheiro enjoativo do combustível, atravessamos incólumes a provação.. Outrora a capital onde se concentrava a nobreza impecável, oferece ao visitante um conjunto de ruínas altivas e negras, intocadas pelo Instituto que neste país preserva o património cultural.. Um regresso de trezentos anos ao passado, um vento de mistério e suave declínio que se pode observar dentro e fora das casas construídas com pedra mineral (ferro, daí o facto dos restos das paredes se apresentarem pretas, parecendo antes o rescaldo de um monumental incêndio..) e de uma mistura de óleo de baleia, um óleo vegetal local e conchas da praia.. Se de facto já vivemos outras vidas, então eu já tinha estado em Alcântara.. Almoçamos debaixo de uma cabana aberta, com vista para o mar e a refeição simples, foi servida em folhas de palmeira..Muito engraçado! O calor era de morte e o suco (sumo) de caju soube divinamente.. A meio da tarde, o Pedro e o Francisco, fartos da torreira inclemente do sol (O Maranhão está a escassos graus da linha do Equador), assentaram arraiais na casa funerária, em meio a caixões versão luxo e mais simples e que apresentava um foco de interesse altamente estimulante: um aparelho de televisão em pleno funcionamento! Enquanto o Francisco chupava um pirolito oferecido pelo jovem casal que nos acompanhava nesta aventura, o dono, admirado explicava que os locais passavam ao largo, de forma muito superticiosa!

A meio da semana fomos de ónibus (aos trancos e barrancos estrada fora por cerca de três horas e meia) até Barreirinhas onde ficamos dois dias.. Barreirinhas não é asfaltado, é pobre, mas tem um centro engraçado voltado para o turismo e é a povoação com o mínimo de condições mais perto dos Lençóis.. Este tempo foi ocupado com actividades mais radicais, onde se incluíram passeios de jipe pela areia (estes faziam um verdadeiro slide em determinados locais e noutros, teriam sem dúvida, transformado o leite em manteiga!) e um dia pelo rio Preguiças (que tem jacarés aborrecidos e que não se mostram a qualquer um) a bordo de uma lancha, fazendo lembrar uma autentica expedição cientifica.. Almoçamos em Caboré, local onde de um lado a ilha é banhada pela água doce e no outro pelo Oceano Atlântico que lambe um autentico paraíso (uma praia deserta, com ondas quentes..Sem vendedores e vizinhos!).. Sexta fiquei doente a "curtir" um dia solitário na pousada, infeliz e abandonada, enquanto os três desciam um braço do Rio Formiga montados em bóias.. Segundo a descrição despiedada com que fui brindada na volta, a água é totalmente transparente, a corrente suave faz com que a descida se prolongue ao longo de uma agradável hora..

Chegamos por fim a casa.. O computo final foi positivo, a expedição alcançou sucesso e os infantes foram várias vezes elogiados pelos nossos coleguinhas de excursão como crianças comportadas e calmas.. Voltamos cansados (mas não muito), mais bronzeados e pouco prontos para retornarmos às nossas tarefas diárias..

A continuar (quando a inspiração assim o permitir.. )

De volta..

Acabei de visualizar o meu abandonado blog e notei que há cerca de dois meses que nada escrevo.. Segundo a Bolas, por culpa do meu "negão" que me deixa estafada.. Pois não posso negar, o rapaz tem sido duro comigo nos treinos apesar de toda a simpatia e educação e é sempre muito transpirada e com algum esforço, que acabo os nossos encontros.. Porém, timidamente, os meus braços começam a tomar alguma forma e já não fraquejo nem suplico quando faço as series de abomináveis abdominais...
Neste tempo, alguns acontecimentos aconteceram (viva a redundância!); nomeadamente o facto de ter abandonado os meus surpreendentes 42 Outonos e ter entrado, de forma até pacífica (mas não conformada), nos 43, antecipados, como já vem sendo hábito, pelo aniversário do meu primogenito Pedro, desta vez condignamente festejado em Terras de Vera Cruz... De Portugal voaram até nós a minha irmã Ana e o meu cunhado Paulo, que, no dia 22 de Setembro, estava eu a preparar o jantar, entraram pela porta de serviço de forma tão natural que quase podia jurar terem estado aqui comigo apenas no fim-de-semana anterior.. Mais estranho foi chegar a casa bastante atrasada e ver o menino Gil sentado no meu sofá bege a cavaquiar com o Luís, uns dias mais tarde.. Sentada à mesa na companhia de todos, dei por mim estupefacta a olhá-los na sua tranquilidade..Enquanto comiam uma sopa de tomate inventada à pressão na minha Bimby, eu tentava encaixá-los nesta realidade tão diversa da rotineira Setúbal..
De Portugal foram chegando algumas novidades, nomeadamente a chegada da Leonor, prevista se não me falha a memória, para Abril P.F., a visita da Fatinha e da Sofia em Novembro (já antecipada de forma muito alegre pelo Francisco que não vê a hora de brincar com a "minha amigona"..), novos empregos para as estagiárias saudavelmente malucas do ex-IRS, entre outras...